Quando comecei toda essa MINHA História no Facebook, Silmara Silva me deixou uma mensagem dizendo assim: "Bem Vinda Professora Santana, a senhora surge em meio a necessidade do "dizer" artístico, em meio ao caos cênico nosso de cada dia". Devolvo-lhe a frase e digo ao "O AUTO DA FOLIA DE REIS": O Teatro de vocês surge em meio a necessidade do "dizer" artístico, em meio ao caos cênico nosso de cada dia! Nas últimas décadas, tem se apresentado uma nova abordagem para o ensino artístico a qual procura delimitar um corpo de conteúdos próprio para a disciplina. Mas nunca se foi tão longe ao se pensar que um espetáculo de Teatro pudesse vir a ser uma aula. Foi isso que fez o Ator e Diretor de Teatro Adalmir Miranda quando trouxe pra cena piauiense o espetáculo “O AUTO DA FOLIA DE REIS”.
O que se pode observar é que o ensino de Arte, nesse ponto de vista, pretende reunir à função formativa do ensino artístico um caráter epistemológico. Além do objetivo de promover uma experiência expressiva e propiciar noções básicas da linguagem, vem reivindicando para si a atribuição de investigar a natureza do fenômeno artístico-estético, como ele acontece e se produz, sistematizando suas relações. Portanto, embutida neste ESPETÁCULO, encontra-se uma investigação sobre o ato artístico. Paira uma questão sobre quais as condições que tornam um fenômeno qualquer, seja som, linha, movimento, ação ou palavra, em evento artístico. O AUTO DA FOLIA DE REIS pretende sobretudo refletir sobre a existência do fato teatral na rua (E AQUI SIM PUDE VER TEATRO DE RUA PURO). Fazer um levantamento sobre as condições básicas da teatralidade, e procurá-las nas dinâmicas com os atores para assinalar que potencialmente a “aula de teatro é Teatro”.
Que bom seria que todos os atores teresinenses pudessem assistir a esta aula proposta por Miranda. Ainda me incomoda a previsibilidade mantida na peça. E SÓ! Quando coloco o espetáculo mencionado na categoria de AULA PARA ATORES é por que em toda aula de teatro há exercícios de improvisação, jogos teatrais, jogos dramáticos ou trabalhos que envolvem o uso do corpo, como consciência corporal ou movimento expressivo. Em todas estas situações, está explícita a intenção de estabelecer, temporariamente, um espaço em que não seja a “vida real”, onde seja possível produzir uma outra realidade e assumir outras personalidades.O AUTO DA FOLIA DE REIS possui tudo isso (E MUITO MAIS!). Por exemplo, em atividade conhecida de Viola Spolin, pesquisadora norte-americana que investigou e sistematizou um método de criação teatral baseado em exercícios improvisacionais denominado Jogos Teatrais, em que o grupo de alunos recebe o nome de um jogo que terão de representar com uma bola imaginária. Embora todos estejam na sala de aula, os alunos devem escolher movimentos que os façam movimentar-se como se eles estivessem em um campo com uma bola real. Naquele momento, os integrantes da aula assumem que a sala possa ser uma quadra de futebol ou basquete ou o jogo que seja. Dentre tantos outros personagens maravilhosos que “O AUTO DA FOLIA DE REIS” apresenta para o público Infanto-juvenil, os Atores de Miranda assumem a Rua como um espaço para os caretas, a cigana, a burrinha, a ema, o pião, a piaba e até ALTAR.
Miranda junto com seu elenco (Adalmir Miranda, Avelar Amorim, Eristóteles Pegado, Laila Caddah, Nayara Fabrícia, Silmara Sila e Vítor Sampaio) nos leva a empenhar-nos cada vez mais contra os “produtos de mercado” de desqualificados produtores, que partem de estapafúrdias tramas misturando Peter Pans e tartarugas ninjas, ou pseudo-adaptações de contos clássicos, ou fiapos de enredo que sirvam de pretexto a macaquices, trejeitos, pulinhos e gritinhos de atores promovidos por um “marketing” que visa apenas a bilheteria, e nunca a criança que está na platéia, ou o jovem que cada vez mais dela se afasta. E a valorizar cada vez mais os que, conscientes de trabalhar com uma linguagem da maior riqueza e expressividade, e de grande atualidade, saibam e queiram usá-la para exibir e suscitar o rico potencial humano que ela faz ver. Além do prêmio de olhares atentos e curiosos da Platéia, O AUTO DA FOLIA DE REIS foi contemplado com o Prêmio da Funarte de Teatro Miriam Muniz.
A busca pelo local do nascimento de Jesus é feita com muita música, cantigas de rodas, personagens do reisado piauiense e principalmente com a alegria do Clown. "No clown, a gente propõe o resgate da alegria, da pureza, da ingenuidade, de um estado interno em que tudo é visto como se fosse a primeira vez" (Paoli-Quito, 1998). E assim foi feito em O AUTO DA FOLIA DE REIS. Ia finalizando sem mencionar o mais importante.O espectador é o outro que aceita compartilhar deste mundo em suspensão criado pelos atores e assume a convenção da linha imaginária que institui os atuantes e os observadores. Neste relacionamento, a rede de sentimentos e reações que se estabelece no momento do encontro é que atribui o caráter único da Folia de Miranda. Quem ainda não viu, vai fazer Folia com o Grupo Corpos de Teatro as 18h30 de hoje na Praça Pedro II. Parabéns ao Grupo que a meu ver, entendeu o teatro, como a forma de arte, que contribui para o crescimento pessoal e o alargamento do olhar de qualquer ser humano em formação. Afirmaria mesmo que o hábito de ir ao teatro desde cedo ajuda qualquer criança a crescer melhor. E – por que não? – mais rápido. Mas eu estou falando de TEATRO, entre outras palavras, O AUTO DA FOLIA DE REIS.