domingo, 16 de outubro de 2011

Entrando na História!




Para Durkheim o termo suicídio é aplicado a todos os casos de morte resultantes direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo da própria vítima que ela sabe que produzirá tal resultado. Grandes estrelas suicidam-se sabiam? É isto que faço neste momento. A Morte de alguém que amamos (OU ODIAMOS) é sempre uma SURPRESA! Com a minha morte desaparece aquela que entre nós, foi “a Lady da Crítica Teatral”, com certa dose de brincadeira mas com grande fundamento na realidade. Tornei-me o símbolo de um rigor que cultivou antipatias no meio teatral piauiense. As palavras duras que dirigi às produções que não me agradam (“leitura óbvia”, “texto confuso e gratuito”, “direção agitada”, “montagem desastrada”) sobressaíram em relação aos elogios que volta e meia distribuí sem economia. Fiquei carimbada como uma crítica severa e durona.


A importância de reconhecer a responsabilidade ao se escrever artigos sobre peças teatrais e se entregar à dúvida e ao questionamento. Dois dos principais objetivos de uma crítica teatral são propagar a reflexão sobre um espetáculo de teatro e mapear o momento histórico pelo qual passa o teatro, independente de julgamentos, em busca única da descrição da cena contemporânea ao crítico. Em artigo de Sábato Magaldi lemos que a crítica comete muitos erros de avaliação, mas são equívocos necessários para propagar a reflexão acerca dos novos fenômenos teatrais, ponto que vai de acordo com as ideias da dramaturga Marici Salomão, de que a crítica é uma das bases da percepção, discussão e difusão de novos caminhos das artes cênicas.


Não quero com esse texto glorificar a atividade que acabo de abandonar seria no mínimo pedante e pretensioso, mas, antes, reconhecer a responsabilidade que carreguei ao assinar meus artigos e, por isso mesmo, me entreguei à dúvida, ao questionamento constante. Em lugar do autoritário “isso pode” e “isso não pode”, reconhecer que o teatro é território livre, em que quaisquer experimentações são possíveis e que, concordando ou discordando do fenômeno teatral que se critica, é necessário o embasamento teórico de Sábato Magaldi, crítico e pesquisador de teatro experiências, vividas ou apreendidas em leituras, para se tecer o texto que, aliás, nada deseja ser definitivo, mas, tão-somente, uma alavanca para a discussão sobre tal fenômeno, já que segundo diz o diretor inglês Peter Brook “o verdadeiro bom teatro só tem inicio ao cair do pano”. É preciso refletir, sobretudo, “o que é?” e “para quem é dirigida?” a crítica teatral. É preciso diferenciar a crítica teatral dos materiais de divulgação de um espetáculo. (LEMBREM-SE DISSO SEMPRE!)


Suicido-me e escrevo agora para despedir-me de vocês, fãs que me acompanharam e atores que me odiaram. E parafraseando Vargas digo: Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam , insultam ; não me combatem , caluniam-me ; não me dão o direito de defesa . Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação para , para que eu continue a defender como sempre defendi o povo e principalmente os humildes .Sigo o destino que me é imposto. Agora ofereço a minha morte . Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da Eternidade e saio “das redes sociais” para entrar na história!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Um amor que ja deveria ter acabado!




Atualmente em cartaz a peça Meu último amor acabou antes de ontem, escrita e dirigida por Júnior Marks, jovem dramaturgo que, este ano, foi ganhador do Festival de Teatro no Ceará na categoria de melhor ator com Vitorino Rodrigues por meio de “17 minutos antes de você”, traz aos palcos as dores e os dilemas da geração que está entre o final dos vinte anos e o início dos trinta, quando os projetos que haviam sido delineados na primeira juventude tomam direções (im)previstas e acabam por levar a novos questionamentos e a experiências que colocarão em xeque certezas estabelecidas.


Com uma montagem que segue os padrões de uma leitura de texto, apresentando cenário que se resume a quatro cadeiras e alguns objetos de cena e figurinos compostos por roupas comuns, de uso cotidiano, a peça segue a linha dos últimos textos escritos e encenados pela novíssima geração de autores/diretores: produções de baixo custo, que têm no arranjo dramatúrgico desafiador e no desempenho dos atores seu foco principal. Era assim que deveria ser! Acontece que o espetáculo não foi dirigido. A Impressão que tenho é que os atores foram jogados no palco e passaram a tagarelar o texto. Marks cria um confessionário que sempre pende o espetáculo para um lado do palco. Os atores não conseguem nem mesmo ser ouvidos!


A Melhor apresentação deste trabalho (que possui um bom propósito) foi dentro do Projeto “TEATRO POPULAR R$1,99”. Ali o Elenco estava afinado e todos os adolescentes (público alvo da peça) conseguiram se apaixonar pela “gostosa” protagonista que hoje foi trocada e não passa de um estereótipo das passarelas (MAGRA E SEM GRAÇA). Gostaria que avisassem ao diretor deste espetáculo que ele não é DIRETOR. É Ator, SÓ ISSO! No caso de Meu último amor acabou antes de ontem, as ideias se organizam como o resultado de POUQUÍSSIMO trabalho proposto por um grupo de atores diante de um texto que querem montar, no qual alguns personagens da mesma faixa etária dos intérpretes se veem diante de dilemas amorosos e profissionais típicos da geração que está se iniciando no processo de maturidade. Isto significa que a peça vai tangenciar temas como a insatisfação profissional, a dificuldade de se ter um projeto comum numa vida a dois, a união homoafetiva e o sexo casual.


Digo tangenciar porque o objetivo do texto não é explorar em profundidade essas temáticas ou propor análises mais sólidas de comportamento; ao contrário, seu alvo é a própria afirmação da instabilidade e da impossibilidade de se pensar em termos mais firmes e fixos a aventura humana abordada. E se recusa a “ser profundo”!


Eu adoro teatro. Então, apesar dos pesares, ainda tenho a esperança de que vá acontecer algo. No momento, as çoisas realmente andam muito ruins, sem estímulo. Os próprios patrocínios nem sempre são suficientemente criteriosos, muitas vezes se dá dinheiro para çoisas que não valem nada, e outras coisas que estão esperando desesperadamente para serem bem-feitas, não o conseguem. Acho que precisaria haver mais preocupação com a qualidade. Já vi muitas loucuras, algumas por "originalidade", outras só por incompetência. Sempre digo que, hoje, época em que o preço do ingresso do teatro não está lá essas coisas, um mau espetáculo cria um voto de castidade por dois anos. Prejudica todo mundo. A pessoa não perdoa! Meu último amor acabou antes de ontem já deveria ter ACABADO há mais tempo.


P.S.:Elenco atual: Adriana Campelo, Flávia Souza, Jerônimo Maciel, Junior Marks e Eristóteles Pegado. É uma pena eu não saber QUEM ERAM os atores do elenco anterior! Alguns permanecem! Para a TRAGÉDIA da peça, outros saíram!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O AUTO EM ALTA!


Quando comecei toda essa MINHA História no Facebook, Silmara Silva me deixou uma mensagem dizendo assim:  "Bem Vinda Professora Santana, a senhora surge em meio a necessidade do "dizer" artístico, em meio ao caos cênico nosso de cada dia". Devolvo-lhe a frase e digo ao "O AUTO DA FOLIA DE REIS":  O Teatro de vocês surge em meio a necessidade do "dizer" artístico, em meio ao caos cênico nosso de cada dia! Nas últimas décadas, tem se apresentado uma nova abordagem para o ensino artístico a qual procura delimitar um corpo de conteúdos próprio para a disciplina. Mas nunca se foi tão longe ao se pensar que um espetáculo de Teatro pudesse vir a ser uma aula. Foi isso que fez o Ator e Diretor de Teatro Adalmir Miranda quando trouxe pra cena piauiense o espetáculo “O AUTO DA FOLIA DE REIS”.
O que se pode observar é que o ensino de Arte, nesse ponto de vista, pretende reunir à função formativa do ensino artístico um caráter epistemológico. Além do objetivo de promover uma experiência expressiva e propiciar noções básicas da linguagem, vem reivindicando para si a atribuição de investigar a natureza do fenômeno artístico-estético, como ele acontece e se produz, sistematizando suas relações. Portanto, embutida neste ESPETÁCULO, encontra-se uma investigação sobre o ato artístico. Paira uma questão sobre quais as condições que tornam um fenômeno qualquer, seja som, linha, movimento, ação ou palavra, em evento artístico. O AUTO DA FOLIA DE REIS pretende sobretudo refletir sobre a existência do fato teatral na rua (E AQUI SIM PUDE VER TEATRO DE RUA PURO). Fazer um levantamento sobre as condições básicas da teatralidade, e procurá-las nas dinâmicas com os atores para assinalar que potencialmente a “aula de teatro é Teatro”.
Que bom seria que todos os atores teresinenses pudessem assistir a esta aula proposta por Miranda. Ainda me incomoda a previsibilidade mantida na peça. E SÓ! Quando coloco o espetáculo mencionado na categoria de AULA PARA ATORES é por que em toda aula de teatro há exercícios de improvisação, jogos teatrais, jogos dramáticos ou trabalhos que envolvem o uso do corpo, como consciência corporal ou movimento expressivo. Em todas estas situações, está explícita a intenção de estabelecer, temporariamente, um espaço em que não seja a “vida real”, onde seja possível produzir uma outra realidade e assumir outras personalidades.O AUTO DA FOLIA DE REIS possui tudo isso (E MUITO MAIS!). Por exemplo, em atividade conhecida de Viola Spolin, pesquisadora norte-americana que investigou e sistematizou um método de criação teatral baseado em exercícios improvisacionais denominado Jogos Teatrais, em que o grupo de alunos recebe o nome de um jogo que terão de representar com uma bola imaginária. Embora todos estejam na sala de aula, os alunos devem escolher movimentos que os façam movimentar-se como se eles estivessem em um campo com uma bola real. Naquele momento, os integrantes da aula assumem que a sala possa ser uma quadra de futebol ou basquete ou o jogo que seja. Dentre tantos outros personagens maravilhosos que “O AUTO DA FOLIA DE REIS” apresenta para o público Infanto-juvenil,  os Atores de Miranda assumem a Rua como um espaço para os caretas, a cigana, a burrinha, a ema, o pião, a piaba e até ALTAR.
 Miranda junto com seu elenco (Adalmir Miranda, Avelar Amorim, Eristóteles Pegado, Laila Caddah, Nayara Fabrícia, Silmara Sila e Vítor Sampaio) nos leva a empenhar-nos cada vez mais contra os “produtos de mercado” de desqualificados produtores, que partem de estapafúrdias tramas misturando Peter Pans e tartarugas ninjas, ou pseudo-adaptações de contos clássicos, ou fiapos de enredo que sirvam de pretexto a macaquices, trejeitos, pulinhos e gritinhos de atores promovidos por um “marketing” que visa apenas a bilheteria, e nunca a criança que está na platéia, ou o jovem que cada vez mais dela se afasta. E a valorizar cada vez mais os que, conscientes de trabalhar com uma linguagem da maior riqueza e expressividade, e de grande atualidade, saibam e queiram usá-la para exibir e suscitar o rico potencial humano que ela faz ver. Além do prêmio de olhares atentos e curiosos da Platéia, O AUTO DA FOLIA DE REIS foi contemplado com o Prêmio da Funarte de Teatro Miriam Muniz.
 A busca pelo local do nascimento de Jesus é feita com muita música, cantigas de rodas, personagens do reisado piauiense e principalmente com a alegria do Clown. "No clown, a gente propõe o resgate da alegria, da pureza, da ingenuidade, de um estado interno em que tudo é visto como se fosse a primeira vez" (Paoli-Quito, 1998). E assim foi feito em O AUTO DA FOLIA DE REIS. Ia finalizando sem mencionar o mais importante.O espectador é o outro que aceita compartilhar deste mundo em suspensão criado pelos atores e assume a convenção da linha imaginária que institui os atuantes e os observadores. Neste relacionamento, a rede de sentimentos e reações que se estabelece no momento do encontro é que atribui o caráter único da Folia de Miranda. Quem ainda não viu, vai fazer Folia com o Grupo Corpos de Teatro as 18h30 de hoje na Praça Pedro II. Parabéns ao Grupo que a meu ver, entendeu o teatro, como a forma de arte, que contribui para o crescimento pessoal e o alargamento do olhar de qualquer ser humano em formação. Afirmaria mesmo que o hábito de ir ao teatro desde cedo ajuda qualquer criança a crescer melhor. E – por que não? – mais rápido. Mas eu estou falando de TEATRO, entre outras palavras, O AUTO DA FOLIA DE REIS.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Sem Elefantes e cem Jibóias


Realmente, o teatro não faz baixar o preço do feijão, não apressa a cassação de político corrupto e às vezes, ao contrário, até serve para corruptos fazerem das CPIs o seu palco... Mas não é por que, partindo desse viés, o teatro não serve pra nada (e serve pra tudo) que vamos “avacalhar”.
Recentemente me fiz platéia de “O Príncipe da Floresta”. De todas as operações empreendidas pela contemporaneidade no campo da arte, acho que a mais evidente é a que desmonta a pretensão naturalista de cópia do real. “O Príncipe da Floresta” é uma mordaz cópia de “O Pequeno Príncipe” de Saint-Exupéry. “O Pequeno Príncipe” conta a história do piloto cujo avião cai no deserto, onde ele encontra um príncipe, "um pedacinho de gente inteiramente extraordinário" que o leva a uma jornada filosófica e poética através de planetas que encerram a solidão humana em personagens como, dentre outros,  o homem de negócios que possuía as estrelas contando-as e recontando-as em ambição inútil e desenfreada; a serpente enigmática; a flor a qual amava acima de todos os planetas. “O PRÍNCIPE DA FLORESTA” TAMBÉM!  
Não existe um modelo pronto, uma receita para adaptar uma obra literária. O interessante é a gente poder debater e conversar sobre as possibilidades que existem. O fato é que a obra não foi ADPTADA foi copiada. Essa cópia não se restringe, evidentemente, ao desejo de reprodução exata de detalhes nos cenários e figurinos, mas se empenha na busca de uma causa suficiente para explicar as situações apresentadas. E o que isso tem a ver com o teatro feito para crianças e jovens? A co-presença entre espectadores e atores era o que fazia minha filha, quando pequena, distinguir teatro de cinema. “Teatro é de gente. Cinema é de tela”. E, por causa das características técnicas da cena teatral que, em princípio, a afastam de certos “efeitos especiais”, algumas crianças têm “preguiça” de ir ao teatro porque já sabem que uma série de coisas lá não serão como no cinema. Imaginem se assistissem ao “O Príncipe da Floresta” encenado pelo Grupo Harém de Teatro e dirigido por Arimatan Martins que tem a péssima mania de colocar o Marcel Julian sempre nos mesmos personagens. Ele já é uma catástrofe seja qual for o personagem, mas Martins deveria ao menos trocar seus papéis para podermos acompanhar as nuances dessa tragédia Cênica.
Quanto ao popular “Manú” nem sei por onde começar! Prefiro até não falar nada. Mas sua interpretação desastrosa não passa despercebida. Fernando Freitas vem enrolado num trapo que não lhe dá domínio corporal fazendo uma serpente engraçada. Agrada, entretanto, mais aos adultos "entendidos" da platéia do que as crianças que fazem (ou ao menos deveriam fazer) parte daquela magia. Francisco Castro passa despercebido mesmo com a capa de “Cão Gasolina” compondo seu figurino e seu típico abrir e fechar de olhos (freneticamente) em todos os seus personagens.
A apresentação cênica não se fecha num único nível de decodificação e coloca sempre e sempre a questão da relação entre o palco e a realidade extracênica, representada, em primeira instância, pela platéia. Fico cheia de revolta e me pergunto: O QUE VOCÊS REALMENTE QUEREM COM ISSO? As pessoas experimentam sem conhecer o que veio antes, então fica um pouco falso, apenas ilusoriamente experimental. Há uma preocupação em ser original que fica superficial. O Coração me dói quando eu vejo um engano de gente que costuma até fazer bem. Mas que desta vez não fez! Como se não bastasse ter uma encenação agitada e uma montagem desastrada ainda colocam em cena uma criança completamente despreparada para assumir o Protagonista de um Espetáculo Teatral. Erro da direção e não da criança (obviamente). O fato de as crianças terem tanta vontade de se aproximar dos atores e vasculhar o cenário e os adereços ao fim de cada apresentação não deve ser compreendido apenas como uma manifestação de tietagem explícita, mas como uma irresistível curiosidade pelo desvendamento da mágica da operação ficcional no teatro. O que as crianças não sabem é que elas são parte daquela mágica, que só se dá na cena ou na memória. E, ao fazer a mágica e, ao mesmo tempo, até pela natureza de seus recursos, desvelar o artifício, o teatro retoma o caráter político, pondo em evidência os atos e as decisões dos homens dentro daquele pequeno lapso de tempo em que se suspende a incredulidade para crer naquilo que o pacto entre espectadores e espetáculo propõe. Essa decalagem, esta cesura entre a verdade ficcional, a apreensão da platéia e a realidade cotidiana é uma poderosa arma contra a visão unilateral, o autoritarismo e a apatia. A Criança que Arimatan põe em cena não foi preparada para esta verdade.
 Acredito, piamente, que o Grupo Harém de Teatro é capaz de dar um novo desenho a este espetáculo tão cheio de propósitos. Portanto, peço-lhes: “Por favor, desenha-me um NOVO carneiro!"

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Senhores sem Reinado


“O Senhor Rei mandou me chamar lá no Paço Municipal para saudar a Rainha que estava chegando...” ¹
1º lugar no Concurso Nacional de Dramaturgia Infantil na década de 70. Esta é a principal referência que temos do Texto de Benjamim Santos dirigido por Lorena Campelo e Encenado pelo Grupo Raízes de Teatro. O que se vê no palco, na maioria das vezes, e o que se lê nos textos em concursos ou em Cursos de Dramaturgia, aponta para um desconhecimento dos alicerces clássicos primeiros da dramaturgia. Aristóteles, Hegel vivem! Eternos? Eternos enquanto durem, parodiando “o poeta”. Porém, para que se desconstrua essa narrativa em busca de novos caminhos e de novas possibilidades é imprescindível que se conheça e se domine o que já existe. O novo se cria como conseqüência, ou mesmo ruptura, de uma História.
 Lorena Campelo , infelizmente, não conseguiu inovar na já tão batida história de Romeu e Julieta. Em “Senhor Rei e Senhora Rainha” o público é levado para o país das cartas onde de um lado tem o Rei de Espadas e do outro a Rainha de Copas. No meio deles o romance Proibido de seus filhos, interpretados por Marina Marques (a “REVELAÇÃO” teatral do momento) e Eliziânio Pedro (QUEM???). O texto além de ser surpreendente mexe com adultos e crianças. A direção não conseguiu deixar o espetáculo tão saboroso quanto o texto de Benjamim (Santos).
A única coisa surpreendente no espetáculo, fora o texto que já falamos, são os Figurinos, Adereços e o Cenário. O colorido que Wilson Costa deu a esses itens atrai a atenção do público. E só! Este é o caminho: ter algo incontido para dizer. Como dizer é uma questão de estudo, análise, busca, aprofundamento, lembrando que criança é coisa séria e que escrever para criança mais sério ainda e fazer teatro então... é de uma seriedade absoluta. Wilson Costa Conseguiu!
 Por outro lado, exigir qualidade sem que haja apoio às produções, sem que haja uma política cultura oficial de promoção do teatro, sem um trabalho permanente de formação de platéia, sem premiações que estimulem os realizadores e sem espaço na mídia para discussão  é uma sobrevivência quase heróica. De um lado, os realizadores que pensam e repensam a sua prática, do outro lado aqueles que fazem e fazem por diferentes razões. O que não impede de trazer qualidade ao espetáculo. O elenco não possui atores e uma só atriz (Edite Rosa) não consegue SOZINHA segurar 45 minutos de espetáculo.
 Vejam o Elenco: Marina Marques, Kelly Campelo, Eliziânio Pedro, Edite Rosa, Rosemary Santos, Nathália Chaves e Kristina Pilla. Conhecem??? Não sou contra a nova geração de atores, até admiro muitos, desde que estejam preparados para subir ao palco, afinal o palco é um todo, uma presença, uma voz, um jeito, uma luz. Penso que um espetáculo para crianças será tão mais interessante quanto mais prazeroso for ao instigar para a descoberta, ao fazer do exercício cênico espaço de pesquisa e de experimentação compartilhada, e não depositário de respostas claramente prontas e fechadas, muitas vezes sob a máscara de uma diversão de rotina, bem distante daquele prazer do conhecimento de que nos falava Bertolt Brecht.
Cabe-nos, para tal, perguntar: em que está contribuindo nossa produção para aquela influência sobre a maturação, a socialização, a percepção, o conhecimento dessas crianças? Que uso podem fazer nossas crianças e adolescentes com o que lhe oferecemos para organizar e interpretar suas experiências?


1. Rainha de Tamba - Alceu Valença

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

MAMÃE, é preciso ter CORAGEM!




Hoje, excepcionalmente, venho mais uma vez mirar-me à frente do computador para tecer algumas palavras sobre os últimos acontecimentos. Não vou falar agora sobre espetáculos mas tão somente sobre o incômodo que venho causando. Principalmente o incômodo causado aos “VERDADEIROS” críticos teatrais. Com relação a minha identidade isso diz respeito a mim. Fake? O que seria um personagem se não um fake? E o que seria um personagem se não nós mesmos?

Os personagens são o veículo da emoção. Comunicam sentimentos e estados de espírito, através dos diálogos e atitudes. Um personagem é um personagem não importando de que matéria é feito. O que dizer do Teatro de Bonecos não é mesmo? Quanto á minha erudição falo apenas que sou tão (in)formada quanto você artista piauiense que não tem formação teórica continuada e nenhuma cadeira de universidade a sentar-se para se teorizar a arte cênica existente aqui. Meus textos, publicados aqui, atingem amigos, inimigos involuntários, mas nunca erra o alvo. Entre as cabeças coroadas que acertei com uma sinceridade pesada estão a do ator Vitorino Rodrigues que por conta disso recebi de Maneco Nascimento uma chuva de impropérios verbais.

A coisa mais engraçada, principalmente para uma pessoa como eu, com muita memória, é lembrar o quanto as coisas eram diferentes, o que era a Teresina quando eu era menina. A cidade ficou mais caótica do que eu. Mas para o teatro desenvolvi memória seletiva. Hoje em dia anulo automaticamente as coisas muito ruins que vejo. Dizem que escrevo sem freios. É porque eles não sabem o que eu penso. Na maioria das vezes é exatamente o que eu penso, mas muitas coisas eu procuro dizer sem chegar ao delírio, porque a minha vontade era dizer assim: "Mas isso é uma estupidez, uma coisa horrorosa." Algumas coisas me irritam, aí eu paro e só escrevo no dia seguinte. Não escrevo com raiva. Talvez eu faça um pouco menos de cerimônia.

Tenho certeza que todas aquelas porcarias que levam para o Theatro 4 de setembro estão sempre cheias e com as pessoas às gargalhadas. É um prejuízo para Teresina. Se fizerem bem-feita uma comédia de um ato de Shakespeare, na periferia de Teresina ou mesmo em Timon, o público vai adorar. É muito melhor dar a eles a chance de vivenciar novos mundos, de ampliar seus horizontes, em vez de limitar. Tudo bem. Mas estamos falando aqui de Teatro popular. E Teatro Popular não precisa ser ruim.

Falam que eu não tenho traquejo lingüístico e nem competência pra julgar os espetáculos. ENTÃO JÁ SABEM QUEM SOU! Mas quero antes fazer um pergunta: Quem tem competência suficiente no Piauí pra ser crítico de arte??? Um Estado onde o curso de Artes Cênicas foi fechado em 1986 em uma de suas maiores universidades. E o que dizer da Escola Técnica de Teatro??? NADA.

Alguns atores estão fazendo um esforço extraordinário, estão melhorando, estudando. Mas tem uns que acham que são maravilhosos e pronto. Se as pessoas se dispusessem a estudar e a tentar, tudo bem. Pior são os que pensam que sabem fazer. Eles não vão melhorar nunca porque já são maravilhosos. Já vi muitos atores bons em Teresina. Vitorino (Rodrigues), Francisco Castro, Silmara (Silva). Acho o (Júnior) Marks um ator excelente, como o Luciano Brandão, a Carmem Carvalho. O próprio (Maneco) Nascimento é um ator talentoso. A Lari (Sales) é uma atriz extraordinária. Tem gente boa, não falta ator. Fico com pena que não haja mais flexibilidade para os cursos de teatro serem muito mais práticos do que são. E, principalmente, a exigência de titulação, que acabou com a possibilidade de um diretor ou um ator transmitir sua experiência. Quem dá aula é gente titulada que nunca pisou em um palco. Isso prejudica o ensino do teatro tremendamente.

Bom, meus panos eu já lavei! Agora Maneco Nascimento “veja as contas do mercado, pague as prestações (...) Eu quero, eu posso, eu quis, eu fiz, eu tenho um jeito de quem não se espanta (...) Eu por aqui vou indo muito bem , de vez em quando brinco Carnaval  e vou vivendo assim: felicidade na cidade que eu plantei pra mim e que não tem mais fim, não tem mais fim, não tem mais fim..."

No Tripé pra não cair...




Gostaria de entender como se dá o processo de montagem de espetáculos em algumas companhias. Principalmente no que se refere ao quesito TEATRO-DANÇA ou DANÇA-TEATRO como preferirem e como preferiu Rudolf Von Laban, autor do termo que em alemão é "Tanztheather". Não é possível determinar tão precisamente os limites dessa “categoria” uma vez que sua essência designa justamente o trânsito “livre” entre os limites do teatro e da dança, como eram vistos. Ou seja, a manifestação cênica que se coloca naquela região de intersecção entre o teatro e a dança acaba por propor uma abordagem de DANÇA-TEATRO ou TEATRO-DANÇA.
O fato é que “piauiensemente” falando encontrei nesta categoria um espetáculo de dança-teatro que atraiu minha atenção.Refiro-me ao espetáculo DUO EM TRIPÉ, idealizado pelo bailarino, coreógrafo e agora, Produtor Cultural, Luís Carlos Vale. O dueto é uma união entre o bailarino e uma portadora de necessidades especias, Meirilane Dutra. Evidentemente que num espetáculo desta natureza os corpos ganham consciência de si próprios e expressividade através de repetições de gestos, palavras e experiências. Duo em tripé ate tenta fazer isso com maestria mas não logra êxito com a presença da cadeirante Meirilane Dutra. Não pelo fato de ser deficiente física (e é bom que isso fique claro) mas pelo fato de não ser atriz, ou no mínimo não ter tido preparação eficaz para assumir tal função no espetáculo.
O teatro tem a sua essência na linguagem verbal. A dança tem sua essência no corpo humano. Ele é o seu principal instrumento de expressão. A dança-teatro unifica esses dois elementos. O corpo é o texto dos dançarinos-atores. Luís Carlos Vale também não consegue ser ator dentro da proposta mas dança muito bem. O trabalho procura oportunizar as pessoas com deficiência a desenvolver e expor seus potenciais artísticos, elevando a auto-estima. Isso é maravilhoso desde que haja um trabalho significativo anteriormente.
Os figurinos do Dueto também é algo que precisa ser citado. As roupas e adereços mais parecem ter saído do guarda-roupa pessoal dos “interprétes-criadores” e isso não dá beleza ao trabalho. E beleza é essencial. Afinal, estamos falando de ARTE. Mas volto atrás no quesito figurinos com relação as roupas de noite. Essa parte da indumentária sugere um jogo irônico através de papéis sociais que completam o desmedido espaço cênico. Algo à La Pina Bausch (E não me venham falar que não conhecem Pina Bausch assim como fizeram com Bárbara Heliodora). Se essa foi a intenção. PARABÉNS! Acertaram!
O fato é que o pilar fundamental da dança-teatro é unir a dança e o teatro pelo seu ponto mais conflitante para daí surgir um espetáculo. Continuo à espera de DUO EM TRIPÉ.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Qual é mesmo o seu Talento???


Pediram-me para falar sobre os espetáculos do ator Franklin Pires. Lamento não poder dizer NADA a respeito. Resigno-me apenas a comentar somente sobre aquilo que possa vir a ser ARTE. A arte é uma criação humana com valores estéticos (beleza, equilíbrio, harmonia, revolta) que sintetizam as suas emoções, sua história, seus sentimentos e a sua cultura. É um conjunto de procedimentos utilizados para realizar obras, e no qual aplicamos nossos conhecimentos. Franklin Pires não tem carisma e nem talento. E não tivemos a sorte d’ele ter herdado as duas pernas do cromossomo de Bid Lima. Acho que Córpusculo e Lord Gaga só errou no ator: em vez de Franklin Pires bem que poderia ser Avelar Amorim que há tempos só atua em espetáculos fora do TEATRO. Tudo bem, faz tempo que eliminamos as imprescindíveis “cenas dos próximos capítulos” mas é tempo, é chegada a hora de radicalizar nas meras coincidências. E Franklin Pires Filmes e seus tentáculos, se mudou de mala e cuia para o cinema. A Desgraça é que ainda não vendem controle remoto junto com a pipoca na entrada.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Tirando a Máscara! (Qual mesmo???)


“Passar a mão na cabeça não é bom para o espetáculo” já dizia Barbara Heliodora e eu gostaria de começar nossa análise de hoje com essa Frase. Hoje decidi tecer algumas palavras sobre o espetáculo “ DONA FLOR E SEU ÚNICO FUTURO MARIDO” de Jean Pessoa e dirigido pelo Próprio Jean Pessoa. Aí já temos início a confusão. Jean Pessoa é Ator, Autor e Diretor. Uma quase comparação faremos aqui à Adalmir Miranda que encheu a Ficha técnica de ALVÁRO DE CAMPOS EM PESSOA com seu próprio nome. A diferença é que Miranda tinha cacife pra acumular funções. O que não pude perceber em Jean. Ao longo da história do teatro podemos observar várias funções. Temos o profano e o religioso, o educativo e o de entretenimento, o político e o alienante, o da arte pela arte. Não consegui enquadrar o DONA FLOR E SEU ÚNICO FUTURO MARIDO em nenhum desses lugares. A formação do ator para espaços abertos não foi contundente no espetáculo deixando roucos atores que ainda primam pela máxima de fazer a velhinha escutar. A princípio o espetáculo se dava com 2 atores e 2Mariachi, figuras populares na cultura musical mexicana e de nenhuma relação com a Bahia de Jorge Amado. Depois, na tentativa de atrair os olhares entra em cena Rafaella Fontenelle num personagem baseado na comicidade de Tom Cavalcante. ÀS vezes até me lembra o Zacarias. Entendo o humor como qualquer mensagem - expressa por atos, palavras, escritos, imagens ou músicas - cuja intenção é a de provocar o riso ou um sorriso. O que a personagem Dona Cansansão Não consegue. Entre as influências na estética do teatro de rua, além da já citada commedia dell’arte, é forte a presença da exuberância visual do circo tradicional e a incomparável habilidade de comunicação de manifestações populares como o maracatu – folguedo nordestino, sobretudo da região de Pernambuco. É possível usar várias formas de linguagem no teatro de rua por exemplo: gestos da mímica no lugar de palavras e até as circenses pernas-de-pau, que servem para fazer a personagem crescer em cena, literalmente. Essas linguagens são muito atrativas para o público e importantes para o ator de rua. Nada disso encontrei no espetáculo que designei-me a analisar. Alguém encontrou? Mas aí vai uma dica aos atores do Grupo Sinos de Teatro: “Esta tarde, tire a máscara da face e improvise” – não
é Senhor Pirandello?

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Diário da Bruxa (de Timon?!?!?!)



O Espetáculo Teatral escolhido para ser debatido nesta noite pela Professora Santana foi o Infantil "O DIÁRIO DA BRUXA" do Grupo Proposta de Teatro de Timon (Até onde sei. O fato é que a companhia só tem atores de Teresina). Aqui recorremos a já tão citada frase de Constantin Stanislavsky: “o teatro para criança tem que ser igual ao do adulto, só que melhor”. O arremedo histérico de Dona Bruxa ressucitada pelo ator Vitorino Rodrigues não caiu bem. Quem viveu a efervescência cultural há alguns anos sabe que a Bruxa de O DIÁRIO DA BRUXA é a mesma Bruxa de DONA BRUXA FAZ A FESTA. Usar personagem do repertório em uma adaptação própria mais pareceu um plágio do que uma homenagem ao saudoso Grupo Alla de Teatro e Dança. Num momento em que a dramaturgia contemporânea toma força, quando a narrativa oral cênica domina os palcos e os contadores de história sobem à cena, utilizando recursos teatrais, fica uma impressão de que tudo pode. E realmente tudo pode, desde que seja intencional e competente. (O que não me parece o caso!). Quanto à adaptação é tosca. Na verdade, a dramaturgia se insere num grande campo que é o da qualidade, o da excelência. O texto tem que ter qualidade e, como se diz do cinema, um bom roteiro não significa necessariamente um bom filme, mas não há um bom filme sem um bom roteiro. O mesmo se pode dizer do texto teatral e do espetáculo. Mas não nos alonguemos sobre o Texto afinal, a excelência de um trabalho não se restringe à dramaturgia, mas à preparação do ator, do trabalho de estudo e pesquisa, a excelência de uma luz, um cenário, um figurino, a pluralidade de linguagens que “tecem” o espetáculo teatral. Tudo isto "O DIÁRIO DA BRUXA não possui. Desculpem-me se estou sendo grosseira e invasiva mas o elenco (que são 2) não é dos melhores. A Fada interpretada por Giselle Moraes é triste e amedontradora. Ana Cristina construiu uma fada mais serelepe mas ainda sem êxito dentro da costura de Roger Ribeiro que dirigiu bem o espetáculo: Limpo, econômico e de corte simples. José Dantas e Márcio Felipe dividem o mesmo personagem (E CERTAMENTE O CARINHO DO PROTAGONISTA) mas embora possuidores de uma beleza digna de Príncipe não convencem. É a velha questão – um cirurgião consciente, profissional, jamais entraria numa sala de operações sem estar preparado para isso, pois é a vida de uma pessoa em risco. O artista também é responsável pela vida das pessoas. Tem responsabilidade social, principalmente sendo uma pessoa da área da cultura, da arte. O novo espectador também corre o risco de morrer ali, na sala de espetáculos, no seu primeiro contato com o teatro, da mesma maneira que o paciente corre o mesmo risco numa sala de operações com um médico não preparado.